A oposição venezuelana, liderada por Urrutia, pode contestar os resultados das eleições, alegando não apenas problemas na contagem de votos, mas também dificuldades enfrentadas por venezuelanos no exterior para se registrarem e votarem.
Após uma eleição marcada por tensão e controvérsias, Nicolás Maduro foi reeleito presidente da Venezuela para um terceiro mandato de seis anos. A confirmação veio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que declarou a vitória de Maduro com 51,2% dos votos, totalizando 5,150 milhões, contra 44,2% do principal opositor, Edmundo González Urrutia, que obteve 4,445 milhões de votos.

Com 80% das urnas apuradas, o CNE afirmou que a vantagem de cerca de 700 mil votos de Maduro é irreversível. No entanto, essa eleição não ocorreu sem controvérsias. Carolina Pedroso, professora de relações internacionais da Unifesp, aponta que a oposição pode alegar fraude, não apenas na contagem de votos, mas também na dificuldade de registro e votação dos residentes no exterior. “Perder o reconhecimento de pares de esquerda da América Latina pode isolar ainda mais o regime de Maduro”, diz Pedroso.
A oposição venezuelana, liderada por Edmundo González, pode contestar os resultados das eleições, alegando não apenas problemas na contagem de votos, mas também dificuldades enfrentadas por venezuelanos no exterior para se registrarem e votarem. “A perda de reconhecimento por parte de líderes de esquerda na América Latina, como Lula, Petro e Boric, pode ter um impacto significativo”, observa Carolina Pedroso.
A declaração de vitória de Maduro, ocorrida por volta da 1h da madrugada de segunda-feira, horário de Brasília, pode provocar uma mudança na postura diplomática de países vizinhos, como o Brasil. Segundo Paulo Velasco, professor de Relações Internacionais da UERJ, “a comunidade internacional pode não ter outra opção a não ser reconhecer o pleito, desde que não haja evidências claras de fraude”.
Para Maduro, apenas sua vitória garantiria a “paz” no país. No dia 18 deste mês, o presidente da Venezuela chegou a alertar para a possibilidade de um “banho de sangue” e uma “guerra civil”, caso não vencesse as eleições. “Quanto mais contundente for a [nossa] vitória, mais garantias de paz vamos ter”, disse Maduro durante discurso na ocasião. A declaração foi criticada pelo presidente Lula (PT), apesar de o petista ser um aliado tradicional do ditador Maduro.

Internamente, a Venezuela enfrenta a possibilidade de protestos e violência. “Acusações de fraude podem criar um clima de convulsão e repressão”, avalia Velasco. Ainda assim, o partido de Urrutia demonstrou um avanço significativo, com uma oposição mais organizada e articulada, sugerindo um novo fôlego para combater o regime de Maduro.
Histórico e contexto
Maduro governa a Venezuela desde a morte de Hugo Chávez em 2013. Com a nova vitória, pode completar 17 anos no poder. O chavismo, movimento político iniciado por Chávez, está no comando do país há 25 anos. A eleição de 2018, também vencida por Maduro, foi amplamente contestada pela oposição, pela União Europeia e pelos Estados Unidos, resultando em sanções severas.
Incidentes e irregularidades durante todo processo eleitoral
O processo eleitoral deste ano foi marcado por atrasos e intimidações em algumas regiões. No estado de Táchira, na fronteira com a Colômbia, no município de Antonio Rómulo Costa, por exemplo, houve relatos de homens encapuzados disparando tiros e espalhando panfletos intimidadores. Observadores internacionais foram barrados, e membros de comissões europeias e ex-presidentes foram impedidos de entrar no país para monitorar as eleições. No sábado (27), um ex-deputado espanhol que participaria como observador das eleições a convite da oposição também foi expulso do país.
A reeleição de Maduro sugere um período de continuidade das políticas atuais, mas também de possível aumento da pressão internacional e interna. Com uma oposição mais preparada e um cenário global atento às questões de direitos humanos e democracia, o futuro da Venezuela permanece incerto, com desafios significativos à frente.