A poda feita nos ipês localizados no canteiro da avenida Maria Quitéria, de tão inadequada e profunda, interrompeu o ciclo de reprodução de praticamente todas as árvores desta espécie. Por isso, neste ano elas não florarão e nem soltarão suas sementes aladas ao vento numa tentativa de que ela gere uma nova vida.
A floração dos ipês da Maria Quitéria é um dos mais belos espetáculos protagonizados pela natureza em Feira de Santana. Outro que chama a atenção dos transeuntes são os flamboyants da avenida Getúlio Vargas em flores coloridas – ao menos estas árvores não são podadas ao extremo.
Nesta e em mais outras primaveras próximas – não se sabe quantas mais, as árvores tem que recuperar suas copas e precisam de tempo, quem passar pela Maria Quitéria não vai ver os ipês carregados de cachos de flores roxas, nem espetáculo visual das pétalas que se soltam cair suavemente, dando esta tonalidade ao chão ao redor do tronco da árvore. Ou ver o balé ao sabor do vento, protagonizado pelas leves sementes dos ipês, que parecem ter asas, embarcar na aventura de futuro incerto e sair à procura de um terreno fértil onde possa pousar e germinar.
As chances de sucesso são baixas, mas existem. As podas interrompem o ciclo da vida. As intervenções, pelo estrago que faz nas copas das árvores – e não são apenas dos ipês, que na avenida são da espécie roxa, não são planejadas ou orientadas por profissional que conhece técnicas que não agridam as árvores. Em algumas, de tão violenta a poda mais parece um escalpelamento, porque cortaram todas as partes onde existiam folhas, deixaram apenas troncos aéreos.
A poda é justificada pela prevenção de acidentes. Os ipês e outras espécies foram plantados sob a rede de energia elétrica de alta tensão. O avanço das copas sobre os fios pode causar acidentes graves, como choques elétricos, em caso de contato dos galhos com a rede. Daí a intervenção sem parâmetros. É cortar por cortar. Ipês floridos podem ser vistos na praça Padre Ovídio, onde existem alguns pés, e em outros pontos isolados da cidade.
