Sete estados e o Distrito Federal firmam aliança; Nordeste, no entanto, fica de fora apesar dos altos índices de violência
Na manhã desta quinta-feira, no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro, os governadores de sete unidades federativas mais a vice‑governadora do Distrito Federal anunciaram formalmente a criação do consórcio batizado de Consórcio da Paz, cuja finalidade é integrar esforços no combate ao crime organizado por meio da troca de inteligência, apoio mútuo em recursos financeiros e efetivos policiais.
O encontro contou com as presenças de: Cláudio Castro (RJ), Ronaldo Caiado (GO), Eduardo Riedel (MS), Romeu Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Tarcísio de Freitas (SP) e Celina Leão (DF). O Rio de Janeiro será a sede inicial do consórcio, ficando responsável pela formalização do grupo.
A proposta ganhou força após a última operação realizada no Rio de Janeiro, em que 121 pessoas morreram nos complexos da Complexo do Alemão e da Complexo da Penha, entre elas quatro policiais militares. Foi nessa operação que foram apreendidos 93 fuzis. A principal meta era atingir o líder do Comando Vermelho, conhecido como “Doca”, mas ele não foi localizado.
Durante a reunião, os chefes estaduais enfatizaram que o objetivo do Consórcio da Paz é promover “ações conjuntas e efetivas de segurança pública, sem politização”. Ao mesmo tempo, manifestaram críticas à PEC da Segurança Pública, enviada pelo governo federal em abril de 2025, que prevê a elevação à condição constitucional do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e estabelece que a União ficará responsável pela política nacional de segurança pública.

Foi anunciado também o funcionamento de um escritório emergencial, fruto da parceria entre o Ministério da Justiça e da Segurança Pública e o governo do Rio de Janeiro, com o objetivo de intensificar a coordenação entre as esferas federal e estadual.
Em paralelo, o governo federal confirmou o envio de 50 novos agentes da Polícia Rodoviária Federal para atuar nas estradas do Rio – além de reforço de agentes de inteligência e peritos para apoiar investigações – e autorizou a transferência de dez presos para penitenciárias federais.
Ausência do Nordeste e preocupações regionais
Um aspecto que chamou atenção na reunião é a ausência dos estados do Nordeste no pacto. Mesmo sendo uma região que enfrenta elevados índices de violência letal, dispersão de facções e graves desafios de segurança pública, nenhum governador nordestino foi anunciado como parte inicial do consórcio. Estudos recentes mostram que as capitais nordestinas lideram as estatísticas de homicídios entre jovens: em nove capitais da região, a taxa média foi 165,4 homicídios por 100 mil habitantes, enquanto na capital fluminense esse índice foi 97,5.
Na Bahia, por exemplo, foram registradas milhares de mortes violentas em 2023 e o estado se colocou como um dos que mais sofrem com violência letal e intervenção policial. Em Salvador, Fortaleza e outras capitais nordestinas, o crescimento da criminalidade e atuação de facções também é uma realidade. A ausência desses estados no Consórcio da Paz gera questionamentos sobre a abrangência nacional real da iniciativa, e deixa em evidência o fato de que regiões com grandes demandas em segurança não estejam formalmente integradas desde o início.
Desafios e o caminho à frente
Os governadores afirmaram que o consórcio trabalhará com compartilhamento de informações de inteligência, recursos humanos e logística de apoio. A ideia é que, com mais colaboração entre estados, seja possível antecipar ações, coordenar operações interestaduais e mesmo planejar investimentos estruturais em segurança. A formalização jurídica do grupo será conduzida nos próximos meses.
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Contudo, críticos pontuam que para que a iniciativa seja eficaz, será necessário não apenas ação policial, mas reformas estruturais: fortalecimento de investigação, políticas de prevenção, integração entre estados, além do envolvimento municipal. No Nordeste — que ficou de fora por ora — tais componentes são urgentes, frente ao cenário em que o crime organizado avança, inclusive em cidades menores, e onde comunidades inteiras sofrem com a evacuação de áreas por conta de violência crescente.
O anúncio do Consórcio da Paz representa um passo relevante para a coordenação da segurança pública entre estados, mas sua efetividade dependerá da adesão plena, abrangência territorial e execução de ações conjuntas contínuas. Se regiões com urgência, como o Nordeste, ficarem à margem, há risco de que a iniciativa gere fragmentação e desigualdades no enfrentamento desse grave problema nacional.
Fonte: Brasil 61
Foto: Governo do RJ/Divulgação





