Com mais de 100 casos suspeitos, pesquisadores oferecem alternativas rápidas e acessíveis para identificar a substância tóxica.
O metanol é uma substância extremamente perigosa, mas que não altera o cheiro ou o sabor das bebidas alcoólicas. Isso significa que uma pessoa pode consumir álcool adulterado sem perceber o risco. A única forma confiável de identificar a presença do metanol é por meio de exames laboratoriais, e pesquisadores de universidades públicas têm criado soluções para facilitar essa detecção.
Segundo o Ministério da Saúde, até esta sexta-feira foram registrados 113 casos suspeitos de intoxicação por metanol, sendo 11 confirmados e 102 ainda em investigação. Essa situação gerou preocupação entre consumidores, órgãos de fiscalização e pesquisadores, que começaram a buscar métodos rápidos e acessíveis para identificar a substância.
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear passou a atender o público em geral, oferecendo exames gratuitos para quem quer verificar se suas bebidas contêm metanol. Para isso, é necessário realizar um agendamento prévio, e a iniciativa tem atraído pessoas que desconfiaram da procedência de bebidas compradas de forma informal.
Laboratórios públicos ajudam a população a identificar metanol
O professor de química e vice-coordenador do laboratório, Kahlil Salome, explica que o teste é simples e rápido. “Funciona de forma parecida com exames médicos. Colocamos algumas gotas da bebida no equipamento, e ele gera um gráfico. Uma das linhas mostra se existe metanol ou não”, explica.
O teste utiliza apenas 0,5 mililitro da bebida e leva cerca de cinco minutos para apresentar o resultado. De acordo com Salome, o equipamento consegue identificar o metanol mesmo em bebidas com corantes, frutas ou outros aditivos. Ele recomenda que qualquer pessoa que desconfie da origem de uma bebida procure o laboratório para análise.
Salome alerta que pequenas quantidades de metanol já representam risco à saúde. Apenas 10 microlitros em 100 ml de bebida já podem ser perigosos. Ele reforça que a pesquisa em universidades públicas tem papel essencial em situações de emergência e lembra que outros laboratórios federais também podem realizar análises semelhantes.
Novos métodos da Unesp
Na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, pesquisadores desenvolveram em 2022 um método capaz de identificar o metanol em bebidas destiladas. O processo é químico: adiciona-se um sal à bebida; se houver metanol, ele se transforma em formol. Em seguida, adiciona-se um ácido, que provoca mudança na cor da amostra. Todo o teste leva cerca de 15 minutos e funciona tanto com bebidas alcoólicas quanto com etanol puro.
O método da Unesp foi patenteado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Ele é especialmente útil para empresas, órgãos públicos e consumidores que querem ter certeza da segurança das bebidas.
Pesquisa que virou negócio
Na Universidade de Brasília (UnB), outro projeto surgiu em 2013 durante o mestrado do químico Arilson Onésio Ferreira. Ele desenvolveu um exame que usa reagentes químicos para identificar o metanol em bebidas. A pesquisa se transformou na empresa Macofren, que produz kits usados por empresas privadas e órgãos públicos para testar bebidas.
Ferreira alerta que o consumo de metanol é extremamente perigoso. “A ingestão de apenas 30 ml pode levar à morte”, afirma. Ele explica que, apesar de o teste ser confiável, ingredientes como açúcares e corantes podem gerar falsos positivos, mas nunca podem gerar falsos negativos. Ou seja, se houver metanol, o teste precisa identificar a substância.
O kit completo custa cerca de R$ 50, e cada reagente utilizado para o teste sai por R$ 25. Apenas 1 ml da bebida é suficiente para a análise. Desde o início da crise, a procura pelos kits aumentou muito, e atualmente há cerca de 200 empresas na fila de espera, incluindo organizadores de eventos, bares e produtores de festas que querem garantir a segurança das bebidas servidas.
A ciência brasileira na prática
Esses exemplos mostram que a ciência brasileira é capaz de oferecer soluções reais para problemas de saúde pública. Laboratórios públicos, pesquisas inovadoras e empresas que transformam conhecimento acadêmico em soluções práticas ajudam a identificar o metanol de forma rápida e segura, prevenindo acidentes graves e mortes.

A colaboração entre universidades, pesquisadores e órgãos de saúde é fundamental para enfrentar a intoxicação por metanol. Em um país com grande consumo de bebidas alcoólicas, iniciativas como essas podem salvar vidas e mostrar que pesquisa científica pode estar ao alcance da população.
Além disso, os casos recentes reforçam a necessidade de maior fiscalização na produção e venda de bebidas. Consumidores devem estar atentos, mas também podem contar com laboratórios e testes que garantem mais segurança, mostrando que a ciência pública pode atuar diretamente em situações de emergência.
Fonte: Agência Brasil




