A esperança de eleições democráticas na Venezuela continua a se desvanecer sob o regime chavista, que há décadas manipula o processo eleitoral para manter o poder.
Desde a ascensão de Hugo Chávez ao poder em 1999, a Venezuela sofre com eleições fraudulentas. O chavismo se consolidou na Venezuela através de práticas eleitorais fraudulentas, e sob a liderança de Nicolás Maduro, desde 2013, essa tendência se intensificou. O recente pleito presidencial, realizado no último domingo (28), não foi exceção e escancarou o desmoronamento das esperanças de uma eleição realmente democrática no país.
A preparação para as eleições foi marcada por uma série de manobras que cercearam a oposição. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), já amplamente controlado pelo governo, foi ainda mais aparelhado. Mais de cem aplicadores do candidato opositor Edmundo González — substituto de María Corina Machado, inabilitada politicamente — foram presos, e a entrada de observadores internacionais convidados pela Plataforma Unitária Democrática (PUD) foi proibida. Além disso, a votação da diáspora venezuelana, que ultrapassa 6 milhões de pessoas, enfrentou dificuldades significativas.
Após o fechamento das urnas, surgiram suspeitas de fraude. Os fiscais opositores foram impedidos de acessar várias seções eleitorais e acompanhar a contagem dos votos. Muitas atas de votação não foram disponibilizadas, e o CNE divulgou apenas um resultado consolidado, desconsiderando as pesquisas eleitorais e o levantamento boca de urna realizado seis horas após o fechamento das urnas.
Este padrão de fraude não é novo. Em 2013, a vitória de Maduro sobre Henrique Capriles foi marcada por alegações de mais de 3 mil irregularidades, incluindo intimidação de eleitores e discrepâncias nas atas de votação. O CNE alegou que uma auditoria dos votos digitais e em papel não encontrou divergências, mas a oposição pediu uma análise mais aprofundada que foi recusada.
Em 2018, o histórico de fraudes levou a oposição a boicotar as eleições presidenciais, assim como havia feito nas eleições para a Assembleia Constituinte de 2017. Em 2019, Juan Guaidó se autodeclarou presidente interino, sendo reconhecido por vários países, mas sem impacto real no poder. O boicote se repetiu em 2020, quando o chavismo conquistou 253 das 277 cadeiras na Assembleia Nacional.

Para as eleições presidenciais deste ano, a oposição decidiu participar, apesar dos riscos, e assinou o Acordo de Barbados em outubro do ano passado para garantir uma eleição livre e justa em 2024. No entanto, a inabilitação de Machado e os eventos subsequentes confirmaram o que muitos já suspeitavam: Maduro continuaria a manipular o processo eleitoral.
Igor Macedo de Lucena, economista e membro do think tank britânico Chatham House, em recentes entrevistas destacou que a atual estrutura de poder — dominada por Maduro — impossibilita uma eleição justa. “Enquanto os órgãos estatais estiverem sob controle do chavismo, não podemos esperar que o resultado eleitoral seja correto ou respeitado”, afirmou Lucena. Segundo ele, mudanças reais só poderiam ocorrer com uma revolta popular significativa ou uma mudança radical interna na Venezuela.
Apesar da decepção com mais uma eleição fraudulenta, Lucena observou um aumento na mobilização da população venezuelana, sugerindo que o descontentamento crescente pode levar a movimentos por mudanças efetivas. “As evidências são claras, e até a pessoa mais humilde da Venezuela entendeu a fraude. O sentimento das ruas e as pesquisas de opinião são inequívocos”, concluiu. A crescente insatisfação e a determinação de muitos venezuelanos mostram que a luta por uma verdadeira democracia está longe de terminar, e o futuro político do país ainda pode reservar surpresas.