Estrutura monumental em Gravataí desafia tradições cristãs e reacende discussões sobre a veneração de Lúcifer e outras figuras controversas.
Um novo santuário dedicado a Lúcifer está em fase de conclusão na cidade de Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A inauguração do espaço, prevista para o dia 13 de agosto, contará com uma imponente estátua de mais de cinco metros de altura, que representará a figura de Lúcifer de forma única, alinhada à interpretação de seus seguidores. No entanto, o projeto está envolto em controvérsia, especialmente entre as comunidades cristãs, que tradicionalmente associam Lúcifer ao diabo.
Ricardo de Oxum, pai de santo e líder religioso da tradição africana, compartilha que no Rio Grande do Sul são comuns práticas como o quimbanda, ligado ao culto de exus e pombagiras, assim como a umbanda e o batuque, que reverenciam orixás, divindades presentes em diversas crenças africanas e que o Rio Grande do Sul é o estado com a maior proporção de seguidores da Umbanda no Brasil, de acordo com dados recentes do censo.
“Aprática da Umbanda no Rio Grande do Sul é marcada por um forte vínculo comunitário, com terreiros que desempenham um papel central na vida religiosa e social dos praticantes.Esses aspectos fazem do Rio Grande do Sul um dos principais centros da Umbanda no Brasil, refletindo a riqueza e diversidade das manifestações religiosas no país”, Concluiu.
A Figura de Lúcifer na Nova Ordem Religiosa
A Nova Ordem de Lúcifer na Terra, liderada por Mestre Lukas de Bará da Rua, é a responsável pela construção do santuário. Diferente da visão cristã dominante, que retrata Lúcifer como uma figura maligna, Mestre Lukas, de 43 anos, descreve-o como um “portador da luz” e uma divindade do autoconhecimento. “Para nós, Lúcifer é um deus que, assim como tantos outros, foi demonizado pela Igreja Católica. Lúcifer é o portador da luz, do autoconhecimento”, afirma o religioso, destacando o papel do santuário em promover uma nova visão sobre essa entidade.
A estátua de Lúcifer, que ainda não foi instalada devido às condições climáticas, será uma representação artística complexa, simbolizando a dualidade da natureza humana. Com características que mesclam a figura humana ao esqueleto, com pés e asas, a escultura pretende capturar a essência do que a Nova Ordem vê como a verdadeira natureza de Lúcifer.
Sigilo e Segurança: Desafios na Construção do Santuário
A localização exata do santuário é mantida em segredo, uma medida adotada para proteger os seguidores da Nova Ordem de possíveis ameaças. A discrição em torno do projeto reflete o ambiente de tensão que cerca o culto a Lúcifer, especialmente em um país onde a maioria da população se identifica como cristã.
Mestre Lukas, que também trabalha como mestre de quimbanda e atua com cartas e búzios negros, não é um estranho a controvérsias religiosas. Em maio, ele participou da criação de um monumento dedicado a Exu, uma divindade das religiões afro-brasileiras, em Gravataí. Este evento, embora tenha sido bem recebido por praticantes de religiões de matriz africana, gerou debates acalorados sobre a pluralidade religiosa e a tolerância no Brasil.
Belzebu, Baphomet e Outras Figuras Controversas na Região Metropolitana
A criação do santuário de Lúcifer não é um evento isolado na Região Metropolitana de Porto Alegre. Em Alvorada, outro município próximo, uma mãe de santo erigiu em 2023 uma estátua de Baphomet, uma figura igualmente controversa que combina traços humanos, de bode e de outras criaturas. A mãe de santo Michelly da Cigana, responsável pela estátua, declarou em entrevistas que Baphomet trouxe transformações positivas para sua vida, destacando a multiplicidade de interpretações que essas figuras podem assumir em diferentes contextos religiosos.
Um ano após a construção da estátua de Baphomet, Michelly da Cigana também estabeleceu um cemitério particular em Viamão, cidade vizinha, destinado a homenagear Exus e Pombagiras, entidades veneradas nas religiões afro-brasileiras. Essas iniciativas refletem a crescente visibilidade e aceitação de cultos que, historicamente, estiveram à margem da sociedade brasileira.
A Perspectiva Cristã e as Advertências Bíblicas
A construção de ícones religiosos que fogem à tradição cristã, como a estátua de Lúcifer, reabre discussões sobre a iconografia e os mandamentos bíblicos que condenam a adoração de imagens de escultura. Em várias passagens da Bíblia, há advertências contra a criação e a veneração de imagens, especialmente aquelas que representam deuses pagãos ou qualquer figura que se oponha ao monoteísmo.
No livro de Êxodo, um dos Dez Mandamentos claramente proíbe a criação de imagens esculpidas: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra” (Êxodo 20:4). Essa passagem tem sido frequentemente citada por teólogos e líderes religiosos cristãos para condenar a adoração de estátuas ou ídolos, uma prática vista como desvio da fé em um único Deus.
Além disso, Isaías 44:9-10 também critica a criação de imagens: “Todos os artífices de imagens de escultura são vaidade, e as suas coisas mais desejáveis não aproveitam; e elas mesmas são testemunhas de que elas não veem nem entendem, para que sejam envergonhadas.” A construção de estátuas como as de Lúcifer ou Baphomet pode, portanto, ser vista como uma afronta aos preceitos bíblicos por aqueles que seguem a tradição cristã.
A Queda de Lúcifer e Seu Significado Bíblico
O próprio Lúcifer, uma figura central no novo santuário de Gravataí, é frequentemente identificado com a queda do anjo rebelde, uma história que aparece em várias passagens bíblicas. Em Isaías 14:12, lemos: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!” Essa passagem tem sido tradicionalmente interpretada como uma referência à queda de Lúcifer, um anjo que se rebelou contra Deus e foi expulso do céu.
No Novo Testamento, em Lucas 10:18, Jesus diz: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu.” Esta visão da queda de Lúcifer como um evento catastrófico serve como uma advertência contra a soberba e a rebelião, e tem sido um tema central na demonização de Lúcifer ao longo dos séculos.
Reflexões Finais
A inauguração do santuário de Lúcifer em Gravataí é um exemplo potente das tensões religiosas contemporâneas, onde visões alternativas do divino desafiam a hegemonia das tradições estabelecidas. Enquanto seus seguidores veem Lúcifer como uma figura de luz e autoconhecimento, muitos cristãos continuam a considerá-lo um símbolo de rebeldia e maldade.
A coexistência pacífica entre diferentes sistemas de crença continua sendo um desafio em uma sociedade marcada pela diversidade religiosa. À medida que o santuário abre suas portas, resta ver como a comunidade local e o país em geral reagirão a essa nova expressão de fé.
Fonte: Correio Brasiliense
Redação: Portal hora da informação
