Enquanto o governo foca em operações e relatórios, brasileiros trabalhadores seguem sendo expulsos de suas casas, mortos pelo crime e esquecidos pelo Estado.
Nas páginas oficiais do governo, o foco é sempre o mesmo: as ações policiais, as críticas à letalidade e a defesa ideológica dos chamados “direitos humanos”. Mas o que não aparece nessas narrativas é a dor silenciosa das famílias trabalhadoras que convivem com o medo das facções todos os dias — gente que perde a casa, o emprego, e até a vida, sem nunca receber amparo de ninguém. A presença das facções se torna uma sombra constante na vida dessas pessoas.
Enquanto a Agência Brasil repercute o sofrimento dos familiares das vítimas da Operação Contenção, no Rio de Janeiro, pouco se fala das famílias que vivem sob o domínio das facções criminosas nas comunidades e nos conjuntos do Minha Casa Minha Vida.
Essas pessoas não aparecem nas manchetes. São os brasileiros que moram em áreas dominadas pelo tráfico, que veem filhos sendo cooptados pelo crime, que não conseguem sair de casa depois das seis da tarde — e que vivem em silêncio, porque denunciar é arriscar a própria vida.
Essas facções deixam um rastro de destruição e medo nas comunidades, tornando a vida insuportável para aqueles que apenas desejam viver em paz.
No Rio, a Operação Contenção foi uma resposta à expansão do Comando Vermelho. Segundo o governo estadual, o grupo movimentava cerca de 10 toneladas de drogas por mês e usava os complexos da Penha e do Alemão como base para distribuir armas e entorpecentes.
Mas enquanto o noticiário discute números e “letalidade policial”, a verdade é que o tráfico domina comunidades há anos, impondo toque de recolher, expulsando famílias e transformando a vida de quem trabalha em um pesadelo. Quando o Estado some, a lei das facções criminosas prevalece.
Impacto das facções criminosas nas famílias e comunidades
Um exemplo cruel vem do Ceará. Em Morada Nova, o distrito de Uiraponga se tornou uma cidade fantasma. Centenas de famílias abandonaram suas casas por medo das facções criminosas que disputam o território. Escolas fecharam, comércios foram saqueados, ruas ficaram desertas.
Situação parecida ocorre em vários bairros de Fortaleza, Caucaia e Maracanaú, onde grupos criminosos também impõem regras e cobram “pedágios” de moradores e comerciantes. É um retrato real de um Estado que perdeu o controle — onde as pessoas fogem para sobreviver e o governo se limita a notas e promessas.

Nem mesmo os condomínios do programa Minha Casa Minha Vida escapam. Em várias capitais, inclusive em Fortaleza, Rio e Salvador, o tráfico passou a tomar os apartamentos e expulsar famílias. O que deveria ser um símbolo de dignidade virou refúgio do crime. Moradores relatam ameaças, extorsões e assassinatos dentro dos conjuntos.
E o mais grave: muitas dessas famílias não têm para onde ir, porque o Estado não oferece nenhum suporte, nem proteção.
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Enquanto isso, fundos e ONGs anunciam campanhas milionárias para apoiar familiares de pessoas mortas em operações policiais. Mas quem apoia o trabalhador que perdeu o lar por causa das facções criminosas? Quem oferece amparo às mães que enterram filhos assassinados pelo tráfico? Quem estende a mão para as famílias que vivem sitiadas em bairros onde a lei é ditada por armas?
Essas histórias raramente chegam à grande imprensa. Falar das vítimas do crime parece menos interessante do que culpar o Estado por tentar reagir.
O problema é que, quando o Estado não age, o preço é ainda mais alto: vidas destruídas, comunidades vazias e brasileiros honestos abandonados à própria sorte.
Não se trata de negar os direitos humanos — pelo contrário, trata-se de lembrar que direitos humanos são para todos, inclusive para o trabalhador que acorda cedo e volta para casa com medo.
São para o pai que quer criar os filhos longe da violência, para a mãe que vive com o coração apertado por ver o tráfico dominar sua rua, e para o jovem que tenta sobreviver num bairro onde o governo nunca chegou.
O país precisa parar de escolher quais vidas merecem ser defendidas. As famílias que choram nas favelas, as que fogem de casa no Ceará, e as que vivem presas em condomínios dominados pelas facções criminosas, todas elas têm o mesmo direito de viver com dignidade.
Mas, enquanto o governo seguir olhando apenas para um lado, o outro continuará morrendo em silêncio.
Fonte: Agência Brasil
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil





