Mulheres Pretas São Forçadas a Dormir em Baias em Caminhada por “Reparação e Bem-Estar”

Mulheres pretas dormem em baias durante caminhada por “Reparação e Bem-Estar”

Brasil

Militantes catarinenses relatam descaso e violência simbólica durante a Marcha das Mulheres Pretas, em Brasília

Os movimentos sociais nada viram de anormal, inadequado, degradante, rebaixante, desmoralizante, desumano, horrorizante, criminoso ou discriminatório em todas as suas variantes no fato de mulheres pretas de Santa Catarina dormirem em baias — um ambiente piorado em comparação às senzalas oficialmente extintas no final do século XIX.

Pois foi exatamente isso que aconteceu. As baias ficam na Granja do Torto, que serve como casa de campo do casal presidencial. As participantes da Marcha das Mulheres Pretas, em Brasília, tiveram estes espaços oferecidos para acomodação, mas denunciaram terem sido recebidas com descaso e vítimas de violência simbólica por parte dos organizadores do evento.

A violência simbólica é uma forma de dominação não física que opera por meio de símbolos, discursos e valores, imposta por grupos ou instituições com mais poder sobre grupos subordinados. A Marcha foi realizada na terça-feira, 25, e tem como bandeiras a defesa da reparação e do bem-viver.

O descaso funciona como um balde de água fria e suja sobre os movimentos sociais, especialmente quando um dos slogans é “ninguém solta a mão de ninguém”. É mais do que desrespeito às militantes e à causa das mulheres negras, que reivindicam reparação por uma história de sofrimento. Em pleno século XXI, o que se vê é a perpetuação do estigma.

Um pedido de desculpas, ainda que formal, das autoridades que afirmam apoiar a causa das mulheres pretas não será suficiente para corrigir o ato discriminatório e vexatório. Não se engane, negrada: a senzala continua logo ali. Será que as lideranças desses movimentos terão melanina suficiente para denunciar o tratamento oferecido às mulheres catarinenses?

A ideologia quebra forças.

Foto|: Bruno Peres/Agência Brasil

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