A estiagem mais severa dos últimos tempos atinge o Brasil de Norte a Sul, afetando o abastecimento de água, gerando incêndios devastadores e ameaçando biomas e economias regionais.
O Brasil vive um momento crítico, enfrentando a maior seca da sua história recente, com consequências devastadoras que se espalham por todas as regiões do país. Este fenômeno extremo, que afeta de maneira diferente as diversas áreas do território nacional, já compromete a vida de milhões de brasileiros, os recursos naturais e a economia, agravando problemas sociais e ambientais em grande escala.
Neste artigo, vamos explorar os principais fatores que contribuíram para esta seca sem precedentes e os impactos severos que estão sendo sentidos de Norte a Sul. A influência do El Niño, o aquecimento global, a destruição ambiental e o uso inadequado dos recursos naturais estão no centro dessa crise.
A gravidade da seca no Brasil
A seca atual, caracterizada pela redução significativa das chuvas e o aumento das temperaturas, está sendo impulsionada por uma combinação de fatores naturais e ações humanas. O fenômeno do El Niño, que provoca bloqueios atmosféricos que impedem a formação de nuvens e chuvas, agravou a crise hídrica, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Além disso, o aquecimento global, impulsionado pela queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, intensificou a estiagem, criando um cenário de extremo calor e falta de água.
Segundo especialistas, o cenário atual reflete uma “tempestade perfeita”, onde as condições climáticas naturais foram exacerbadas pelas mudanças provocadas pelo homem. “O aquecimento dos oceanos tem contribuído significativamente para essa situação, e o El Niño atua como um catalisador, bloqueando as chuvas e intensificando o calor”, explica Regina Rodrigues, pesquisadora da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Impactos da seca nas regiões do Brasil
A estiagem afeta diferentes regiões de formas distintas, mas todas enfrentam desafios graves. A seguir, analisamos o cenário de cada região do país:
Norte: isolamento e colapso dos rios
O Norte do Brasil, tradicionalmente uma região de chuvas abundantes, vive um cenário de caos com rios secando a níveis recordes. Cidades ribeirinhas estão isoladas, sem acesso a insumos básicos como água e alimentos, e as comunidades sofrem com a falta de infraestrutura e políticas públicas de resposta rápida. A Amazônia, em particular, vive sua pior temporada de queimadas em anos, com o fogo destruindo grandes áreas de floresta e gerando uma crise ambiental sem precedentes.

De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), os níveis dos principais rios da região caíram drasticamente em 2024, com o rio Negro, por exemplo, registrando uma redução de mais de quatro metros em relação ao mesmo período de 2023. Isso afeta a navegação, compromete o transporte de mercadorias e ameaça a fauna aquática, como no caso do rio Solimões, onde peixes morrem aos milhares devido à falta de oxigênio nas águas rasas.
Além disso, a estiagem no Norte afeta diretamente a Zona Franca de Manaus, polo industrial estratégico para o Brasil. Com a baixa dos rios, empresas da região enfrentam dificuldades logísticas, resultando em custos adicionais que podem impactar os preços de produtos distribuídos em todo o país.
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Centro-Oeste: o Pantanal em chamas
O Pantanal, maior planície alagada do mundo, enfrenta uma situação crítica devido à seca extrema e aos incêndios que se alastram pela vegetação seca. Em 2024, o bioma bateu recordes de queimadas, com áreas inteiras devastadas pelas chamas, e a fauna local sendo severamente afetada.
Segundo o MapBiomas, o Pantanal perdeu 61% da sua área de superfície coberta por água em comparação com a média histórica, o que torna o bioma ainda mais vulnerável a incêndios. Essa perda acelerada de recursos hídricos ameaça a própria existência do Pantanal, que corre o risco de sofrer danos irreversíveis.
“O Pantanal está sendo queimado e, antes de se recuperar, é atingido novamente por incêndios. Sem medidas urgentes para conter esse ciclo, podemos perder o bioma antes do final do século”, alerta Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima.
Sudeste: cidades em alerta por incêndios
A região Sudeste é uma das mais afetadas pela seca, com todas as suas cidades classificadas em algum nível de estiagem. O estado de São Paulo, em particular, sofre com incêndios que destroem áreas agrícolas e florestais. Em agosto de 2024, foram registrados mais de 2,6 mil focos de calor, resultando em incêndios que se espalharam por quase 50 cidades.

Essa onda de calor e falta de chuvas também afeta o abastecimento de água. O Sistema Cantareira, principal reservatório que abastece a região metropolitana de São Paulo, está operando com níveis críticos, gerando preocupações sobre um possível racionamento. Em Minas Gerais, mais de 100 cidades estão em situação de emergência devido à seca, especialmente nas regiões Norte e dos vales do Jequitinhonha e Mucuri, áreas historicamente vulneráveis a períodos de estiagem prolongada.
Nordeste: o impacto do aquecimento dos oceanos
Apesar de ser tradicionalmente a região mais seca do Brasil, o Nordeste tem sentido menos os efeitos da estiagem em 2024 devido ao aquecimento das águas do Atlântico, que alterou os padrões climáticos e distribuiu as chuvas de forma mais uniforme. No entanto, mais de 50% dos municípios da região ainda estão em alguma classificação de seca, e o semiárido nordestino continua enfrentando desafios relacionados ao abastecimento de água e à produção agrícola.
No Piauí, por exemplo, agricultores têm registrado perdas significativas nas safras devido à falta de chuvas, o que agrava a crise econômica local e gera impactos sociais graves.
Sul: entre chuvas extremas e a ameaça da seca
No Sul do Brasil, o Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores tragédias climáticas da história recente, com chuvas intensas que causaram inundações devastadoras. No entanto, a previsão para os próximos meses é de que a seca volte a assolar a região, com a possível chegada do fenômeno La Niña, que trará períodos de estiagem prolongada.
O Paraná, por exemplo, já tem 75% do seu território em situação de seca, e especialistas alertam que a falta de chuvas pode agravar ainda mais os problemas relacionados ao abastecimento de água e à agricultura local.
Perspectivas futuras e a necessidade de ações imediatas
O cenário de seca no Brasil é preocupante e deve se intensificar nos próximos meses, especialmente com o avanço do El Niño. As projeções indicam que, sem ações concretas e coordenadas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, o país continuará enfrentando crises hídricas severas e seus impactos devastadores na economia, na biodiversidade e na qualidade de vida da população.
É essencial que o Brasil invista em políticas de resiliência e adaptação, com foco no combate ao desmatamento, no uso racional dos recursos hídricos e na proteção dos biomas ameaçados. A crise atual serve como um alerta sobre a necessidade urgente de enfrentar as causas da mudança climática e adotar uma gestão sustentável dos nossos recursos naturais.
Fonte: Globo
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